lunes, 22 de septiembre de 2014

O vale das ideias mortas

Uma página em branco. Um branco em página. Possibilidade de verdade. Uma possível grande mentira. As palavras continuam perdidas em minha mente. Só vejo traços. Traços que se querem transformar em formas. Formas que querem dizer ideias. Estão mortas as ideias? Como pode uma ideia morrer? No esquecimento. Quero lembrar-me de você e de tudo o que eu lhe disse. Tudo o que aconteceu naquela noite é lembrável? Não, mesmo a memória estando conectada ao mais puro dos instintos. O momento já se perdeu. A sua energia viva dissipou-se. Evaporou-se noite adentro. E amanheceu em dias de arrependimentos. Excessos sucessos inconfessos. O amor? Alçou, voou, libertou. Nada mais importa agora. Só quero descansar no vale das ideias mortas.

domingo, 21 de septiembre de 2014

Kaiowás e uma paixonite

Eu já tinha visto aquele rosto algumas vezes e já tinha também falado com ele. Mas não me lembrava do seu nome. Apanhou o violão e começou a dedilhar uma música do Metallica. Metallica? Como pode ser? Então, aproximei-me dele e perguntei se tinha mais Metallica. Ele tinha mais Metallica. E também tinha Sepultura e tinha samba... De repente, começa a tocar Kaiowas, tão maravilhosa, não a ouvia há uns quinze anos, talvez mais. E começamos a conversar e ele estava interessado em tudo o que eu tinha a dizer e eu no que ele ia dizendo. Falamos do Metallica, do sertão, da “minha” literatura, da música dele e de por que ele tinha uma unha preta. E ele era tão... Tão. - Não me lembro do seu nome... - Nuno. E ele tocou, e eu cantei. Cantamos. E como de volta aos quinze anos, eu abri o meu coração e pus o Nuno lá dentro. Só um bocadinho, só um instantezinho, um daqueles em que fingimos acreditar – ou de verdade acreditamos? – que ainda há magia no mundo e que encantamentos acontecem. Só porque é Lisboa. Só porque esta cidade é mística. Como uma princesa. Encantei-me. Feitiço? Duas horas de conversa e um mundo inteiro de assuntos para falar. E o meu enfeitiçado coração levou então um beliscão. Esse Nuno que está aqui dentro, não tem namorada, pois não? Então fui-me embora correndo para nunca mais o ver. Antes da carruagem virar abóbora. Mas espera, tenho de lhe dizer algo. Voltei. O quê? O quê? Escrevi umas linhas. Rasguei. Comecei outras, rasguei. E tomei a decisão. - Tu não tens namorada, pois não? - Pois sim... - Oh Nuno... E assim se acabou a paixonite. Morreu, sim senhor!