domingo, 21 de septiembre de 2014
Kaiowás e uma paixonite
Eu já tinha visto aquele rosto algumas vezes e já tinha também falado com ele.
Mas não me lembrava do seu nome.
Apanhou o violão e começou a dedilhar uma música do Metallica.
Metallica? Como pode ser?
Então, aproximei-me dele e perguntei se tinha mais Metallica.
Ele tinha mais Metallica.
E também tinha Sepultura e tinha samba...
De repente, começa a tocar Kaiowas, tão maravilhosa, não a ouvia há uns quinze anos, talvez mais.
E começamos a conversar e ele estava interessado em tudo o que eu tinha a dizer e eu no que ele ia dizendo.
Falamos do Metallica, do sertão, da “minha” literatura, da música dele e de por que ele tinha uma unha preta.
E ele era tão...
Tão.
- Não me lembro do seu nome...
- Nuno.
E ele tocou, e eu cantei. Cantamos.
E como de volta aos quinze anos, eu abri o meu coração e pus o Nuno lá dentro.
Só um bocadinho, só um instantezinho, um daqueles em que fingimos acreditar – ou de verdade acreditamos? – que ainda há magia no mundo e que encantamentos acontecem.
Só porque é Lisboa. Só porque esta cidade é mística.
Como uma princesa. Encantei-me.
Feitiço?
Duas horas de conversa e um mundo inteiro de assuntos para falar.
E o meu enfeitiçado coração levou então um beliscão.
Esse Nuno que está aqui dentro, não tem namorada, pois não?
Então fui-me embora correndo para nunca mais o ver.
Antes da carruagem virar abóbora.
Mas espera, tenho de lhe dizer algo. Voltei.
O quê? O quê?
Escrevi umas linhas. Rasguei. Comecei outras, rasguei.
E tomei a decisão.
- Tu não tens namorada, pois não?
- Pois sim...
- Oh Nuno...
E assim se acabou a paixonite. Morreu, sim senhor!
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