domingo, 28 de febrero de 2010

Platônico Paco

Ele era o chefe. E eu, o que era eu naquela época nem sei. Sei o que queria. Queria o chefe. E ao mesmo tempo em que queria não queria ou não sabia se queria. Mas tentava: tentativa, tentação. Produzida no escritório, de saia, sentava em cima de sua mesa. Você está bonita hoje!
Platônico. Era platônico.
Ele era meu amigo, contava-me tudo. As crises no casamento, as brigas com a mulher. A separação – minha chance –, a saudade do filho. Angústias, dificuldade de entender, dureza de superar. E situação pouco favorável no escritório. Está tudo desabando, Eliza. Sua vida sucumbia.
Eu fui embora. Cruzei o Atlântico. E ele foi lá, esteve em Madrid. E nos encontramos. Vinhos e tapas. Ele estava separado. Ele já não era mais o chefe. Ele me acompanhou até a estação de metrô. Fui-me. Olhando para trás, esperando. Mas, nada. Partida sem beijo.
Platônico. Todavia platônico.
Três anos, quase três anos depois. Vamos repetir aquele vinho de Madrid? Platônico. Claro, sexta-feira, na minha casa.
Ele abriu a porta: – Oi Eliza. Como se tivesse me esperado sempre. Como se soubesse desde sempre que eu ia chegar naquela noite. Entrei. A casa um buraco de Alice. Uma casa ao redor. Espiral, salas e quartos girando em volta. Obras de arte, imagens sagradas e profanas, meditação. E uma bela cave, grande, cheia. Um bom vinho.
Ele contou que a vida ia bem. Ele se consertou. Superou, aprendeu, cresceu. E eu queria. E ao mesmo tempo em que queria não queria ou não sabia se queria.
Não houve tempo para vacilar. Agarrou-me, beijou-me, levou-me para a cama. Espera, deixa processar. Processar o quê? Cama. Sexo. Sexo. Sexo.
Ele era gostoso. Muito gostoso. O ex chefe, o amigo, aquele que eu não sabia se queria, tantos anos depois. Surpreendeu. Ele quis, eu quis, e fizemos tudo. Tudo.
Consumado. Foi consumado.
Posso dormir aqui?

Ele não me deu bom dia. Ele não me beijou. No dia seguinte: parece até que dormiu comigo! Risos. Café da manhã na padoca. Carona para ir embora.
Ele parou o carro em frente à minha casa. Agora sim um beijo. Despedida com beijo. Ciao Eliza.
Acabou. Parece que acabou.
Platônico.

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